A chamada articulação temporomandibular (ATM) é responsável pela ligação entre o maxilar inferior (mandíbula) e o osso temporal do crânio. Localizada bem à frente das nossas orelhas, ela permite o movimento mandibular para que possamos mastigar alimentos e falar, por exemplo.

As disfunções temporomandibulares (DTM) se manifestam através de alguns sinais e sintomas, como limitações nos movimentos mandibulares, sensações auditivas (zumbido, dores, pressão), dores faciais e cefálicas, entre outros. Essas disfunções, principalmente o deslocamento anterior do disco articular, constituem patogenias relativamente comuns na população em geral e, especialmente, nos pacientes portadores de deformidades faciais candidatos à cirurgia ortognática.

São candidatos a cirurgia ortognática pacientes com desequilíbrio esquelético do complexo maxilomandibular (deformidade dento-esqueléticas que causam maloclusão esqueletais e dentoalveolares), cuja solução não pode ser propiciada apenas pelo tratamento ortodôntico.   As alterações funcionais nesses pacientes fazem com que todo sistema maxilomandibular se sobrecarregue e provoque disfunções na ATM. Sendo assim, as alterações dentoesqueléticas podem ser consideradas como fator de risco para o desenvolvimento de DTM, principalmente pelo fato de que o deslocamento do disco articular não costuma ser apenas devido às maloclusões, mas também às adaptações miofuncionais e à sobrecarga do sistema estomatognático.

O reposicionamento das bases ósseas conseguido por meio da Cirurgia Ortognática proporciona resultados estéticos-funcionais satisfatórios e, em muitos casos, modifica de maneira espontânea, a musculatura orofacial induzindo novas respostas adaptativas que, na maioria das vezes são benéficas, onde há uma melhora da DTM. Porém, a cirurgia ortognática para correção de maloclusão e deformidade dos maxilares, não irá estabilizar ou eliminar disfunções ou patogenias já existentes na ATM.

Há evidência científica de que pacientes com disfunções da ATM tratados no passado somente com cirurgia ortognática apresentam recidiva significativa e reportam queixas pós-cirúrgicas de agravo nos sintomas da ATM, como dor e limitações nos movimentos mandibulares. Portanto, a escolha do tratamento definitivo deve ser a cirurgia ortognática concomitantemente ou precedida (mais comum) com a cirurgia das ATM, evidenciando que estes procedimentos podem e são complementares, demonstrando que a estabilidade oclusal só é perpetuada quando obtemos a concomitante estabilidade articular, em virtude da extrema interdependência de ambas.

Com certa frequência, o disco articular encontra-se posicionado anteriormente e travado (sem redução), necessitando de tratamento cirúrgico. O uso da técnica de ancoragem (a colocação de mini-âncoras  no côndilo e na raiz do arco zigomático para cirurgia de reparo/reposição do disco articular) na Atm, simultaneamente a cirurgia ortognática, apresentou os melhores resultados pós-operatórios como conduta para tratamento de pacientes com deformidades faciais e desordens da articulação temporomandibular concomitantes.

A nova conduta proposta, cirurgia ortognática e cirurgia de ATM (seja ao mesmo tempo ou mais comumente em tempos cirúrgicos diferentes), tem-se mostrado como uma alternativa confiável e de sucesso para o tratamento de tais patogenias. O sucesso dessa nova abordagem depende muito do planejamento do cirurgião buco- maxilo- facial (profissional especialista que trata patologias faciais) em conjunto com outros profissionais envolvidos no tratamento desses distúrbios temporomandibulares, visto que são tratados de forma multidisciplinar.

Dr. Thiago Santana é especialista em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial e Implantodontia, com cursos nos EUA e Brasil em Cirurgia Ortognática e Harmonização Orofacial.